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12 September 2008

Jornal de Poesia - Fernando Pessoa

(via)
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. [Nota de SF "Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu]

Jornal de Poesia - Poesia temática

(via)
No caminho com Maiakóvski "[...] Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. [...]" Prometo-lhes publicar o poema inteiro. Minha amiga Maria do Carmo Ferreira, acho que ela o tem. Agora lhes falo de um outro poema, a rigor um trecho de sermão, ou prédica, de um pastor luterano, alemão, da época do nazismo, Martin Niemöller, ao que parece de 1933 (o poema). Encontrei, via www.google.com, os seguintes textos: 1º) Zuerst kamen sie für die Kommunisten, und ich war nicht Kommunist, und da hab ich nichts gesagt und nichts getan, und dann kamen sie für die Gewerkschaftler, und ich war kein Gewerkschaftler,und sie kamen für die Sozialdemokraten, und sie kamen für die Katholiken, und sie kamen für die Juden, und ich war keiner von denen, und dann kamen sie für mich, und da war keiner mehr, der schreien konnte. 2º) Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar. 3º) Quand ils sont venus chercher les communistes, je n'ai pas bougé : je ne suis pas communiste. Alors, ils sont venus pour les syndicalistes et je n'étais pas syndicaliste; Et ils vinrent pour les Sociaux-Démocrates, et ils vinrent pour les catholiques, et ils vinrent pour les juifs, je n'étais aucun de ceux-là; Quand ils sont venus pour moi, il n'y avait plus personne pour faire le cercueil. 4º) First they came for the Communists, and I didn’t speak up, because I wasn’t a Communist. Then they came for the Jews, and I didn’t speak up, because I wasn’t a Jew. Then they came for the Catholics, and I didn’t speak up, because I was a Protestant. Then they came for me, and by that time there was no one left to speak up for me.

02 August 2008

28 July 2008

Jornal de Poesia - João Cabral de Melo Neto

(via)
João Cabral de Melo Neto Tecendo a Manhã 1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. (A Educação pela Pedra)