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April 2008

sampaART - casa das rosas

Inspirado no modelo arquitetônico dos casarões franceses, o imóvel, situado no número 37 da Avenida Paulista, foi construído, em 1935, pelo escritório técnico de Ramos de Azevedo, para servir de residência a uma das filhas do grande arquiteto paulista. O casarão foi habitado até 1986, quando foi desapropriado pelo Governo do Estado de São Paulo. No local, tombado em 1985, pelo Condephaat, a Secretaria de Estado da Cultura inaugurou, em 11 de março de 1991, o espaço cultural conhecido por Casa das Rosas, cujo nome foi inspirado na flor predominante nos grandes jardins do imóvel. A proposta deste espaço é traduzir e codificar uma linguagem que possibilite o salto para uma nova civilização. Não é uma metalinguagem. É uma nova linguagem, sem nenhum compromisso ou liame com o passado. É um salto quântico, uma ruptura que não deixa pontes. É um momento desconfortável e, ao mesmo tempo, fascinante. Neste último milênio, assistimos a três mudanças básicas de civilização: da oralidade ou memória circunscrita para a civilização da escrita ou memória extensível e, finalmente, para a civilização eletrônica ou de memória incomensurada. A Casa das Rosas está “plugada” com o mundo e criando o ideal da arte sem fronteiras. Todas as exposições acontecem tanto em suas dependências físicas quanto nas WEBPAGES da Casa das Rosas. Escritores, poetas, artistas plásticos, fotógrafos são convidados a trabalharem em hipertextos e hiperimagens e terem seus trabalhos hospedados em nosso site. O acervo digital da Casa das Rosas: Rosas Net Art . Diretor: Frederico Barbosa Av. Paulista, 37 - Bela Vista Fone: 11 3285-6986/ 3288-9447 Funcionamento: Aberta de terça a domingo, das 11h às 21h.

Decio Pignatari

Décio Pignatari (Jundiaí SP 1927) Publicou, em 1949, os poemas Noviciado e Unha e Carne na Revista Brasileira de Poesia. Na época, integrava o Clube de Poesia, em São Paulo SP, liderado por poetas e críticos da Geração de 45. Em 1952 fundou o Grupo Noigandres, com Augusto de Campos e Haroldo de Campos, que publicou cinco antologias poéticas. Entre 1956 e 1957 participou do lançamento oficial da Poesia Concreta na Iº Exposição Nacional de Arte Concreta, no MAM/SP e no saguão do MEC/RJ. Publicou, em 1958, o Plano-Piloto para Poesia Concreta, em co-autoria com Augusto de Campos e Haroldo de Campos, em Noigandres n.4. Nas décadas seguintes, traduziu várias obras em francês, inglês e russo. Foi um dos criadores da editora e da revista Invenção, lançada em 1962 como veículo da Poesia Concreta. Em 1964 lançou o Manifesto do Poema-Código ou Semiótico, com Luiz Angelo Pinto. Foi membro-fundador da Associação Internacional de Semiótica, em Paris (França), em 1969. Nas décadas de 1980 e 1990 colaborou em vários periódicos, entre os quais a Folha de S. Paulo, e foi professor de Semiótica e Comunicação da FAU/USP. Publicou vários livros de ensaios, entre eles Cultura Pós-Nacionalista (1998). Sua obra poética inclui os livros Carrossel (1950), Exercício Findo (1958), Poesia pois é Poesia (1977) e Poesia pois é Poesia, 1950/1975. Poetc, 1976/1986 (1986). Décio Pignatari, criador do poema-código e semiótico, é um dos principais nomes da poesia Concreta. O Lobisomem O amor é para mim um Iroquês De cor amarela e feroz catadura Que vem sempre a galope, montado Numa égua chamada Tristeza. Ai, Tristeza tem cascos de ferro E as esporas de estranho metal Cor de vinho, de sangue, e de morte, Um metal parecido com ciúme. (O Iroquês sabe há muito o caminho e o lugar Onde estou à mercê: É uma estrada asfaltada, tão solitária quanto escura, Passando por entre uns arvoredos colossais Que abrem lá em cima suas enormes bocas de silêncio e solidão). Outro dia eu senti um ladrido De concreto batendo nos cascos: Era o meu Iroquês que chegava No seu gesto de anti-Quixote. Vinha grande, vestido de nada Me empolgou corações e cabelos Estreitou as artérias nas mãos E arrancou minha pele sem sangue E partiu encoberto com ela Atirando-me os poros na cara. E eu parti travestido de Dor, Dor roubada da placa da rua Ululando que o vento parasse De açoitar minha pele de nervos. Veio o frio com olhos de brasa Jogou olhos em todo o meu corpo; Encontrei uma moça na rua, Implorei que me desse sua pele E ela disse, chorando de mágua, Que era mãe, tinha seios repletos E a filhinha não gosta de nervos; Encontrei um mendigo na rua Moribundo de fome e de frio: “Dá-me a pele, mendigo inocente, Antes que Ela te venha buscar.” Respondeu carregado por Ela: “Me devolves no Juízo Final?” Encontrei um cachorro na rua: “Ó cachorro, me cedes tua pele?” E ele, ingênuo, deixando a cadela Arrancou a epiderme com sangue Toda quente de pêlos malhados E se foi para os campos da lua Desvestido da própria nudez Implorando a epiderme da lua. Fui então fantasiado a travesti Arrojado na escala do mundo E não houve lugar para mim. Não sou cão, não sou gente - sou Eu. Iroquês, Iroquês, que fizeste?

February 2008